sábado, 21 de janeiro de 2006

Um pouco de Lumiar

Em setembro de 2005, tive a grata satisfação de conhecer a escola que não tive. Achei que esse momento não chegaria tão cedo. Na verdade, sempre achei apenas utopia de minha parte sonhar com um ambiente escolar democrático, onde todos - alunos, professores e diretores - pudessem ter uma participação ativa, crítica e democrática nas decisões pedagógicas e administrativas da escola. Por sorte, meus achismos não se confirmaram e a Lumiar está aí para provar que utopias não são tão etéreas assim.

Localizada em São Paulo, capital, a escola Lumiar é um projeto inovador em termos educacionais. Baseada na pedagogia democrática, tem como filosofia a participação de todos os seus membros nas orientações administrativas e pedagógicas que a norteiam. Das regras para o uso da sala de computadores à forma como cada disciplina será ensinada, da estrutura da grade curricular à escolha das atividades extra-curriculares, tudo é decidido em roda, cada criança com seu voto, cada professor com seu voto, cada diretor com seu voto, sem distinção de idade. E há crianças de 5 anos votando, é bom ressaltar! Exercício de gente grande para aqueles que um dia também serão. Nada mais natural, nada mais oportuno, nada mais democrático, nada mais educativo.

A notícia logo se espalhou e a crescente demanda fez com que a Lumiar abrisse suas portas uma vez por mês, para visitas monitoradas, a fim de receber educadores de todas as partes, cidadãos curiosos em conhecer o método. Foi assim que chegamos lá. Chegamos que eu digo sou eu e três grandes amigos: Andréa, Laércio e Fernando.

A Lumiar está instalada num casarão antigo, não muito grande. As paredes tiveram o reboco retirado, deixando os tijolos estão à mostra, o que combina com o estilo do casarão e cria um ambiente confortável. Mais do que isso, proporciona a sensação permanente de que algo está em construção e ainda existe a possibilidade de interferir nesse processo. Há frases de pensadores famosos escritas ou penduradas nas paredes. Instigam a reflexão e a crítica, incomodam na medida exata para que ninguém se acomode. Não há luxo, apenas cadeiras, carteiras e estantes convencionais, o suficiente para um cotidiano comum e funcional.

A visita começa com uma grande roda de curiosos, todos ouvindo, atentos, às palavras de um dos coordenadores. Perguntas surgem a todo momento: "como trabalham os conteúdos do vestibular?, "a pedagogia democrática funciona mesmo?", "como as crianças votam?", "os votos têm o mesmo peso?". Não resisti e também fiz minha pergunta: "os pais dos alunos não ficam preocupados com o fato dos filhos estudarem em um ambiente que não condiz com a realidade do mundo?". Pergunta chata, eu sei, mas fruto de minha percepção de que o mundo não é exatamente democrático como todos ali gostariam.

A resposta do coordenador veio direta: "Isso aqui também não é real? Não estamos num ambiente escolar democrático? Os valores que praticamos aqui dentro existem e também fazem parte do mundo! Podem não ser tão comuns, mas nossos alunos são preparados para entender que o mundo pode ser democrático dessa forma, como pode ser o avesso disso tudo. Nesse ponto, estarão mais preparados do que aqueles que se acostumaram a ver uma realidade só".

Não foi preciso dizer mais nada. Aquela era a escola onde queria ter estudado. Nessa impossibilidade, resta-me buscar esse propósito como educador. É o que tenho feito, tenho tentado ser uma Lumiar ambulante. Sei que não basta, mas é um exercício para o futuro, para os projetos que tenho em mente. Até lá, a Lumiar está aí para provar que as utopias são possíveis. É o que diz a missão da Escola: "Formar pessoas socialmente responsáveis, autônomas e felizes". O Brasil agradece.

5 comentários:

  1. Eu sempre achei que se um problema parece não ter solução - e os problemas sociais são assim - é porque, na verdade, ainda não encontramos a solução e não porque seja causa perdida. Aliás, nenhuma causa humanitária é perdida... nós é que ainda não fomos suficientemente perspicazes pra construir uma alternativa. Por isso é preciso continuar tentando. E ver que vez ou outra alguém consegue fazer diferente me faz ainda mais confiante e segura nas minhas causas...

    Gostei muito desse pessoal. MUITO.

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  2. Agora que você está dominando o HTML(:D), Recomendo o Site Meter. É meio Big Brother, mas muito divertido. Você vai se surpreender com a quantidade de gente de lugares diferentes que visitam seu blog...
    www.sitemeter.com

    É só cadastrar seu blog e depois eles vão te dando as instruções.

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  3. Valeu pela dica, Carmen. Vou instalar um contador de acessos, deve ser bom mesmo saber quantos passam por nossos blogs.

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  4. Template em azul ficou mui lindo...
    Ao que parece o HTML está indo de vento em popa!

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  5. Gostou, Carmen? Tô achando muito azul, mas vou dar um tempo nesse tom. Mexer nos códigos de html é mesmo um barato. Mas perdi um tempão tentando encontrar os tons de azul que eu queria. Dava tempo de colocar mais postagens, ao invés de ficar brincando :) Esses dias já vem coisa nova. Grande abraço.

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