quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Alma Livre Futebol Clube

Não sou adepto de nenhuma religião ou prática espiritual. Cheguei aos 40 anos tendo experimentado várias doutrinas, mas achando todas sacais e excessivamente dogmáticas. Por isso, acabo de fundar o ALFC - Alma Livre Futebol Clube, agremiação apolítica, apartidária e não religiosa. Não tive qualquer influência divina, nenhuma luz branca apareceu na minha frente e ninguém me entregou dois pedaços de pedra dizendo que não pode matar o próximo. Óbvio que não pode matar o próximo, não precisa um pedaço de pedra dizendo isso. Mas cobiçar a mulher do próximo pode... eu conheci minhas namoradas assim. Bom... apesar de ser tudo livre, o ALFC também possui seus...

 10 Esclarecimentos

- Primeiro Esclarecimento: o ALFC é uma associação não-doutrinária, que aceita torcedores de qualquer crença ou de nenhuma crença, desde que estejam dispostos a abrir mão dos dogmas, medos, culpas e maluquices aprendidas em outras religiões.

- Segundo Esclarecimento: o ALFC não possui um deus único, muito menos deuses múltiplos. Sequer é necessária a adoção de um Deus. Cada sócio é livre e responsável por elaborar, se assim desejar, a ideia que bem entender de entidade superior. Também é livre para não elaborar nada. Chega de inventar fábula pra boi dormir.

- Terceiro Esclarecimento: o ALFC é um órgão voltado ao bem e não pode ser usado com fins de manipulação alheia. Serão automaticamente desligados todos os associados que tentarem doutrinar esta iniciativa.

- Quarto Esclarecimento: o ALFC não estimula o uso amuletos, símbolos, imagens ou quaisquer outros subterfúgios que façam alguém depender de um objeto para atingir alguma graça.

- Quinto Esclarecimento: o ALFC não se responsabiliza por milagres ou poderes paranormais desenvolvidos por seus membros. Não acreditamos que alguém possa andar sobre as águas ou transformar água em vinho... a não ser que seja um X-Men.

- Sexto Esclarecimento: qualquer fenômeno considerado estranho será analisado à luz da ciência, a única entidade que explica coisas neste mundo.

- Sétimo Esclarecimento: o ALFC jamais possuirá sede própria, muito menos emprestada, cedida, doada ou ganha por usucapião. Acreditamos que a espiritualidade não requer espaço exclusivo para ser praticada, pode ser em qualquer sala, quarto, banheiro, praça, etc..

- Oitavo Esclarecimento: o ALFC não admite discriminação religiosa, espiritual, astrológica, adivinhatória, sexual, racista, étnica ou de qualquer outra origem. Já basta o Bolsonaro de idiota neste mundo.

- Nono Esclarecimento: todos os associados estão isentos de quaisquer sentimentos de culpa que possam causar danos psicológicos (transitórios ou permanentes), a si mesmos ou a outros. Culpa é ideologia de dominação de religiões de segunda categoria.

- Décimo Esclarecimento: os dez esclarecimentos entram em vigor na hora que cada um bem entender.

PS: sejam agnósticos ou ateus, as religiões só trazem problemas ao mundo.

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Logotipo do ALFC criado, colorido, contornado e preenchido, agora há pouco, pelo site http://www.says-it.com/seal/

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Tomate, Cebola e Sexo

Tenho a sorte de já ter convivido e de continuar convivendo com pessoas que falam de sexo como se falassem da feira semanal. Falam de masturbação, gozo, sex shop ou trepada com a naturalidade de quem fala de tomate ou cebola.

Não se consegue fazer isso de uma hora para outra. É preciso encontrar pessoas que encarem o sexo com menos tabu do que a sociedade normalmente encara. É difícil encontrá-las por aí.

Também não é fácil perder o constrangimento diante do assunto, isso é algo que acontece aos poucos. É como andar de bicicleta... tarefa insegura no início, mas que depois torna-se natural. Chega uma hora que se encara o sexo com naturalidade, sem pudores, medos ou conservadorismos.

Esta postagem é uma homenagem a essa ideia, da qual sou um defensor. E minha homenageada é a sexóloga e apresentadora, Mõnica Moreira Lima, ou só Mõnica Lima. Mônica tem um canal no YouTube chamado "Sem Vergonha", onde fala de sexo muito mais naturalmente do que de qualquer feira, tomate ou cebola deste mundo.

Este link direciona para o programa de Mônica sobre Orgasmo Feminino. Vale a pena assistir. Vale a pena começar a encarar o sexo sem tabus. E Mônica Lima é especialista nisso.

https://www.youtube.com/watch?v=4Ju9OiHjWj4


domingo, 7 de fevereiro de 2010

A reflexão perdida


Penso, mas pouco reflito.
Pergunto, mas não me respondem.
Ouço, mas pedem que eu não escute.
Faço, mas dizem que não é assim.
Vou, mas tentam me segurar.
Volto, mas tentam me impedir.
Protesto, mas tentam me calar.
Mostro, mas dizem que não veem.
Calo-me, então, como um morto.
Afirmam, finalmente, que estou vivo.

Estou parado em frente à tela de meu blog há um bom tempo, tentando elaborar frases de efeito para iniciar esse texto. Consegui elaborar essas acima. Já havia escrito algumas orações mais convencionais, mas nada parecia ter o impacto que pretendia dar ao assunto. Talvez seja o calor deste domingo de fevereiro, mas me recuso a culpar o clima pelo vazio momentâneo de ideias.

É curiosa essa dificuldade para achar as palavras certas, montar a estrutura adequada de raciocínio. Escrever não é tarefa fácil, todos sabem disso. Mas há algo logicamente construído por detrás dessa dificuldade, uma espécie de sombra que se projeta sobre a capacidade de reflexão de inúmeras pessoas.

A dificuldade de escrever não é apenas falta de prática ou de muito estudo sobre gramática. É uma dificuldade imposta de propósito em muitos países e sistemas educacionais. É uma dificuldade completamente artificial, programada desde nossa infância.

Não é interessante que qualquer pessoa saiba expressar muito bem suas ideias e valores. A boa escrita determina a classe social da qual viemos, é uma espécie de passaporte diplomático, algo que poucos possuem. É a forma que as classes mais dominantes possuem de exercer pressão sobre as classes menos privilegiadas. Ideias expressas em letras tornam-se livros. Livros tornam-se instrumentos ideológicos. E ideologia é uma forma antiga de dominação.

Faço parte de uma geração que foi estimulada a pouco escrever. Recebemos educação escolar e familiar aos montes, mas sempre em doses bem controladas. Sou fruto de um sistema social e educacional onde se ensinava a engolir pensamentos, ao invés de manifestá-los. Impulsos como reflexão, crítica, questionamento e curiosidade eram tratados com muito cuidado por educadores, pais e sociedade em geral.

Nasci no início de 1970, poucos anos após o golpe militar que cravou a indigna ditadura no Brasil. Tão indigna, que minha infância e adolescência foram cercadas por um currículo escolar fragmentado em disciplinas desconexas, especialmente elaboradas para serem decoradas, jamais questionadas.

Passei quase minha vida inteira em escola pública, considerada referência de qualidade à época. Apesar do currículo engessado em matérias isoladas, era o que havia de melhor dentro do regime ditatorial que vigorava no Brasil. Mas esse 'melhor' era até a segunda página, depois disso o sistema educacional transformava-se numa sequência de fatos, fórmulas e regras decoradas. E decorada não significa aprendida a partir de alguma reflexão. Já comentei sobre isso em outro post

Essa pedagogia da alienação surtiu alguns efeitos. Aprendemos a pensar sim, mas meio às avessas. Como era impensável criticar professores e diretores, aprendemos a engolir nossos protestos e a pouco externar nossas opiniões. Como não nos ensinaram a razão da pobreza e da riqueza, aprendemos que os bens materiais definem o caráter das pessoas.

Como não nos ensinaram filosofia, não aprendemos a distinguir o mundo falso do mundo real. Como não nos ensinaram sociologia, não aprendemos sobre a estrutura desigual de nossa sociedade.  Há essas e outras falhas em minha formação... e o tempo parece escasso para desprogramá-las.

Criei meu blog justamente para exercitar o senso crítico que pouco exercitei durante meus anos escolares. Escrevo, portanto, para salvar a mim mesmo, pois sou um náufrago da má pedagogia. Sei que há muitos outros náufragos à deriva, pessoas que ainda falam, criticam, expressam, combatem, reflitem. Se você fizer o mesmo, muitos saberão que também sobreviveu.
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Imagem: http://niilismo.net/galeria/pictures/repressao.jpg

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Paixão virtual

De: Tímido 39
Para: Descolada 34
Assunto: Olá!

Olá, vi seu perfil e sua foto e te achei super interessante. Faz apenas dois dias que me cadastrei aqui e ainda estou vendo se este site é interessante... na verdade, foi uma amiga que insistiu para que criasse um perfil. Enfim, se quiser conversar, entre em contato, posso te enviar fotos.
Bjs,
Tímido 39
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Fui um garoto tímido durante minha infância e adolescência. Tímido talvez não seja o melhor adjetivo, quem sabe fosse só uma criança introspectiva. Ou as duas coisas, sei lá! De qualquer forma, sempre fui muito tímido em relação às garotas, como são quase todos os adolescentes. Tive algumas paixões platônicas, mas não me declarei a niguém, ... afinal, como se declarar à amada quando se é criança ou adolescente? Se até hoje não tenho a resposta, quanto mais naquela fase.
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De: Descolada 34
Para: Tímido 39
Assunto: Re: Olá

Olá, Tímido 39! Tudo bem com você?! Gostei bastante do seu perfil também! Acho que temos alguns pontos em comum... Como não sou assinante ouro do site, só posso ler e responder a 1 mensagem sua. Bjs, Descolada 34
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Pois é... quase 40 anos de vida e só agora consigo cantar garotas de uma forma minimamente civilizada. Mas o mérito não é meu, é de um site de relacionamento onde me cadastrei há poucos dias. Cadastro feito a contragosto, devido ao preconceito que descobri ter contra sites assim. Minha impressão é que estou num grande classificado emocional, como aqueles que apareciam no mundo machista das revistas eróticas dos anos de 1970 a 1990, antes do surgimento da internet.

O site em questão é uma grande rede social de pessoas buscando relacionamentos. Homens e mulheres atrás de homens e mulheres, ou seja, há opções para todos os tipos de sexualidade. Há um filtro de pesquisa bastante detalhado para a busca da alma gêmea, onde o internauta seleciona o que está procurando. A lista do filtro é imensa: relacionamento homo ou heterossexual, idade, município, cor dos cabelos, dos olhos, estatura, cor da pele, se a pessoa tem ou não tatuagem... enfim... você consegue encontrar a parceira ou parceiro ideal clicando aqui e ali.

O site também cobra das pessoas que o visitam. Se você não for assinante ouro, as possibilidades de interação com outras pessoas ficam bem limitadas. Pois é... paguei 34 reais para ser ouro e paquerar as garotas com todos os recursos virtuais disponíveis, como mensagem, piscadinha, bate-papo e por aí vai. Meu preconceito não mudou uma vírgula após meu pagamento, continuo achando a iniciativa um grande mico.
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Timido 39: Olá, tudo bem?
Descolada 34: Tudo bem! Me conta mais de você...
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A conversa começou a ficar melhor a partir daí. É muito mais tranquilo paquerar online do que ao vivo. Algumas barreiras da timidez simplesmente desaparecem, já que nem eu sei quem é a pessoa e vice versa (as fotos do perfil são verdadeiras, os nomes não).

Achei Descolada 34 o máximo! Inteligente, perspicaz, ótimas sacadas e um super bom humor! Aliás, foram essas as características que havia selecionado quando criei minha parceira ideal no site. É como brincar de Deus criando Eva. Ou de Eva criando Adão. A sensação é legal, assim como é legal o sentimento de se apaixonar pelas fotos de perfil.

Meu preconceito foi desmoronando conforme visitava perfis e tinha conversas agradáveis. Fantástica essa possibilidade de virtualizar a paquera, o namoro, até um possível casamento. É uma grande ajuda não só para pessoas tímidas, mas para pessoas que já não têm pique para ir à baladas procurar o par ideal. É algo discreto, descontraído, uma iniciativa ótima para quem está na faixa dos 30, 40, 50 ou até mais ou menos. 

A paquera com Descolada 34 não foi muito longe. Assim como eu utilizo a busca para encontrar meu par ideal, ela o faz para achar o homem ideal. Desencontramos. Paciência. Acabou dando certo um encontro com outra pessoa que conheci no mesmo site. A vantagem é que já cheguei ao encontro com meio caminho andado, pois ambos sabíamos que estávamos ali por causa de um site de relacionamentos. Não vou precisar passar por aquela fase às vezes chata dos rodeios, das meias palavras, de minha histórica timidez. Também foi por terra meu preconceito contra sites desse tipo. Dois benefícios num pacote só: vencer a timidez e acabar com um preconceito. Vantagens de uma época em que até os sentimentos são virtuais.
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Nota: Tímido 39 e Descolada 34 são nomes fictícios. No site tínhamos outros codinomes.