domingo, 8 de maio de 2016

Golpe no meio do caminho

Comecei 2016 me propondo a escrever sobre essa nossa estranha "Vida Súbita", título que dei ao conjunto de textos que já comecei a publicar. Os textos 1 e 2 estão exatamente abaixo deste. A ideia é compartilhar desafios de vida enfrentados por pessoas que, por diferentes motivos, chegaram aos limites de suas forças para superar graves doenças que ainda não têm cura em nossa época.

No entanto, deixei de escrever no último mês para me dedicar a uma guerra virtual contra o golpe político que está quase se impondo sobre o Brasil. O governo democrático de Dilma Rousseff vem sendo seriamente ameaçado por uma sequência de sabotagens vindas dos políticos, das mídias e dos empresários mais sórdidos da nação. 

Indivíduos sem escrúpulos, além de instituições públicas e privadas, todos extremamente conservadores, buscam derrubar Dilma de modo ilegítimo. Tentam fazer isso articulando o impeachment da presidente de forma criminosa, acusando-a por um crime que não existe... ajustes orçamentários ilegais, popularmente conhecidos como "pedaladas fiscais". A ideia é sórdida em todos os sentidos, pois além da busca do poder presidencial pela força da mentira, políticos, empresários e mídia tradicionais ameaçam impor ao país uma agenda de retrocessos em diversos campos (ver em http://bit.ly/1rGF8j9).

Neste momento, estão ameaçadas desde conquistas trabalhistas até direitos humanos, já que os golpistas são formados por setores conservadores e religiosos que se opõem tanto ao avanço das classes mais pobres, quanto à aprovação de leis a favor das mulheres, aborto, homossexuais, indígenas, meio ambiente, reforma agrária, reforma política, dentre outros (ver reportagem da revista Brasil de Fato: http://bit.ly/23zvMls)

Além da dimensão interna, o golpe possui interesses que extrapolam as fronteiras brasileiras. Há uma geopolítica envolvendo a tentativa de derrubar Dilma, ou seja, um conjunto de interesses de vários países e diferentes sistemas de governo (a melhor matéria a respeito é da revista Carta Capital: http://bit.ly/24F5QHv)

Desde 2002, quando o PT assumiu a presidência do país, passamos a nos aproximar de ações para fortalecer países em desenvolvimento que ainda buscam ocupar um lugar estratégico no mundo. O grupo do BRIC - Brasil, Rússia, China e Índia - é o melhor exemplo desse xadrez mundial de poder. Enquanto esse grupo avança, o grupo de países desenvolvidos vê com incômodo essa união. Questões como neoliberalismo e interesses nos recursos naturais também estão em jogo nessa tentativa de golpe no Brasil (ver reportagem em http://bit.ly/26mRRIe).

Há dois personagens principais tentando derrubar Dilma, ambos asquerosos e ambos representando o que há de pior na classe política e empresarial brasileira. Um é o agora ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, talvez o político mais escabroso que tenhamos visto no país... e olha que o Brasil está cheio deles (ver http://bit.ly/1q7tGfl). O outro é o vice-presidente da república, Michel Temer, um sujeito que foi erroneamente escolhido pelo PT para articular interesses partidários em prol do governo.

Eduardo Cunha e Michel Temer representam tudo que há de mais ultrapassado no cenário político: ambos são do PMDB, um partido que guinou à direita mais ultra-conservadora, após ter lideranças que ajudaram o país a sair da ditadura. Ambos são religiosos - ou falso religiosos - já que falam em fé para justificar atos ilícitos e impor uma agenda de retrocessos em nossas leis. Ambos representam grupos empresariais como a FIESP, um aglomerado de homens de negócios cuja visão de mundo está parada no autoritarismo de séculos passados (ver http://bit.ly/1QVH4Jq)

Como se tudo isso não bastasse, o episódio mais vergonhoso do atual golpe foi protagonizado pelo infame Eduardo Cunha. Mesmo sendo acusado, formalmente, por diversos crimes, tanto no Brasil quanto no exterior, esse imenso canalha conseguiu apoio das principais instâncias jurídicas do país para conduzir a votação do impeachment de Dilma no Congresso. A absurda e vergonhosa votação não foi para julgar qualquer crime de Dilma, mas para deputados exporem o Brasil à vergonha absoluta. Protagonizaram um show de horror numa sessão de impeachment que poderia ser despejada no esgoto da história nacional (ver http://bit.ly/1rBq3j3).

O próprio STF - Supremo Tribunal Federal - omitiu-se quanto ao afastamento necessário e gritante de Eduardo Cunha, permanecendo impassível e sem julgá-lo por tantos crimes graves. Foi esse tempo de letargia do STF que o infame Cunha usou para organizar a farsa do impeachment dentro de nosso bizarro congresso (ver em http://bit.ly/1SWGpND).

Hoje é 08 de maio, um nublado sábado de 2016. No próximo dia 11 (quarta-feira), o Senado julgará o falso processo de impeachment contra Dilma Rousseff. O relator do processo é um senador golpista do PSDB, o ex-governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia. É o mesmo sujeito que praticou quase mil "pedaladas fiscais" em seu governo, mesmo "crime" do qual Dilma é acusada (ver matéria em http://bit.ly/1X7q4rc). Aliás, o motivo alegado para um impeachment é tão irrelevante que outros 16 governadores praticaram os mesmos ajustes que Dilma (ver em http://bit.ly/1RhNWob).

É difícil resumir, num só texto, todos os absurdos sobre o golpe em andamento no Brasil. Há centenas de fontes, inclusive a própria mídia internacional reconhece a farsa política que paira sobre nosso país (acesse http://bit.ly/1T67Vu4). Na contramão, a mídia nacional conservadora colocou-se ao lado dos golpistas e dá versões manipuladoras sobre o processo. Rede Globo, jornais Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, revistas Veja, Istoé e Época são as faces mais grotescas dessa armação. 

Felizmente, o jornalista, escritor e advogado americano, Gleen Greenwald - vencedor do prêmio Pulitzer 2014, vem denunciando o golpe ao mundo (acesse http://bit.ly/1SYLFwN). É uma voz importante contra toda a mentira montada para derrubar um governo eleito democraticamente. É uma voz que se soma à milhões de outras que estão engajadas em proteger o governo Dilma via redes sociais.

Eu sou apenas mais uma dessas vozes, mas me junto à todas e todos que vêm denunciando o golpe via internet. Espero que consigamos barrar esse absurdo. Se não conseguirmos, pelo menos fica o registro para que aberrações do tipo não se repitam no futuro da democracia brasileira.