quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Um blog blue

A cor azul deste blog não representa apenas meu gosto pessoal. Já editei essas cores várias vezes, experimentei diversos templates, mas sempre volto aos tons de azul. Talvez seja um pouco de exagero, pois mal dá para distinguir entre as cores das caixas de texto e o tom externo que as envolve.

Como disse, não é apenas questão de gosto, mas um símbolo de minha própria existência. Esse azul todo representa a água, ambiente onde passei boa parte de minha vida e que foi fundamental para determinar quem sou, quem fui e quem serei.

Estabeleci, desde muito cedo, uma relação de confiança com o mundo azul. Tive minhas primeiras aulas de natação aos 4 anos de idade, nas piscinas mágicas de minha terra natal. Digo mágicas porque foram nessas piscinas que o feitiço foi lançado sobre mim.

O contato com água sempre me encantou, numa espécie de magia que também se transferiu para outras piscinas, para lagos, rios e mares. É uma relação forte, pois se renova todas as vezes em que mergulho no mundo azul. Onde quer que esteja ou vá, sempre procuro me manter próximo a essa magia. É algo vital para mim, pois mantém meu astral em alta, meu humor em dia e minha saúde física e mental.

Foram inúmeras as vezes em que organizei idéias e projetos enquanto nadava. Foram muitos os momentos em que superei minhas ansiedades e medos enquanto deslizava pela suave superfície aquática. Foram incontáveis as vezes em que fortaleci minha esperança, coragem e determinação no mundo azul.

As habilidades que desenvolvi nadando também influenciaram o modo como encaro a vida. Aprendi a respirar de forma diferente, mais forte e mais intensamente. É ótimo sentir que o corpo todo respira quando há um esforço físico. Também aprendi a conviver com a dor dos treinamentos e a mobilizar forças quase inexistentes para encarar momentos de desafio. São essas mesmas capacidades que tenho utilizado para superar situações árduas que cruzam meu caminho.

Como disse, o mundo azul me fez como sou, alegrou minha infância, motivou minha juventude, deu-me rumo na vida adulta. É assim que fluo, que me relaciono e que vivo cada precioso segundo de minha existência. Esse é meu mundo azul, minha vida azul, talvez minha alma azul. Foi por isso que criei um blog com esses tons, um blog blue, pois somente aqui caberiam as palavras que dão cor à minha vida.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Mangueiras e Mangas

Semanas atrás me envolvi num debate interessante sobre Educação. Foi numa das listas virtuais da qual participo, onde há internautas bem ativos e sempre dispostos a encarar uma boa discussão. Todos ali são educadores de longa data, cada um com suas conquistas e cicatrizes acumuladas durante anos de batalha.

Lá pelas tantas, as críticas passaram a orientar o rumo das conversas. E mesmo com a qualidade dos debatedores, as críticas adquiriram tons pessimistas, deixando expostas apenas as falhas e negatividades do tema em questão, ao invés de salientar pontos mais positivos. Eu sei, quando o assunto é Educação, às vezes é difícil incluir o otimismo na conversa. Mas o pessimismo pouco ou nada ajuda, a não ser a alastrar o desânimo.

Acompanhei os debates durante alguns dias, até que alguém comparou um projeto educacional à uma mangueira, tentando metaforizar as qualidades da Educação através dos dons que essa árvore carrega. Dons como sabor, força e capacidade de nutrir pessoas. Imediatamente, outro alguém surgiu para dizer que só visualizava as mangas que apodreciam com rapidez.

Lógico que cabiam críticas na discussão, mas as palavras eram apenas de descrédito, sem qualquer proposta de mudança.. Foi aí que decidi intervir para dar algum aspecto mais otimista ao debate.

Meu contraponto partiu de minha experiência pessoal. Tive a oportunidade de trabalhar cinco anos junto à uma organização que desenvolvia projetos baseados em potenciais. Potenciais positivos, obviamente. Olhávamos para situações aparentemente complicadas buscando o que havia de melhor naqueles ambientes: pessoas com capacidade de liderar, idéias inovadoras, capacidade de iniciativas, cooperação, senso de comunidade, dentre outros.com inúmeros dons.

Enxergávamos soluções onde a maioria somente apontava problemas. E sempre encontrávamos formas de transformar o cenário em questão, fosse com o auxílio dos potenciais existentes no setor público, privado ou terceiro setor, independente de partido, religião ou qualquer outro rótulo. Não havia espaço para pessimismo, derrotismo, lamentação e arrependimentos. Aceitávamos críticas se viessem acompanhadas por propostas de solução. E tentávamos... uma, duas, três ou quantas vezes fossem necessárias. Sempre era possível fazer algo melhor e sempre chegávamos em soluções. Plantamos várias mangueiras.

Após usar a lente dos potenciais por mais de cinco anos, tornou-se difícil lidar com a miopia de muitos pessimistas. Ainda vejo pessoas e organizações trilhando o caminho da lamentação, apenas apontando erros, necessidades e problemas. Lamentam, reclamam e criticam, raramente contribuindo para a melhoria do cenário.

Se a Educação não chegou onde gostaríamos, é porque devemos fazer mais, propor mais, mobilizar mais, brigar mais, tentar mais. Não é batalha para apenas uma geração, por isso temos que deixar um legado positivo para aqueles que estão por vir. Nossas atitudes serão a base de inspiração para futuros educadores, seja para o bem ou para o mal. Diante dessa responsabilidade, não podemos esquecer que somos o cerne da mangueira, jamais a manga podre onde muitos escorregam.
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Nota: a organização junto à qual atuei foi o IDIS - Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social. Participei, durante 5 anos, do Programa Doar, cujo princípio era desenvolver comunidades e municípios através da utilização de seus potenciais humanos, físicos e financeiros. www.idis.org.br

domingo, 9 de novembro de 2008

Resiliência

Kris Carr é uma jovem atriz americana. Tem 37 anos, é bonita, inteligente, sexy. Faz documentários interessantes, incentiva hábitos saudáveis de vida, luta por causas sociais, ambientais e culturais. É casada, vive feliz com seu marido, pratica yoga e também é vegetariana. É conhecida em boa parte do mundo, mantém um blog visitadíssimo, possui um site idem e lançou um livro que virou referência de luta para milhares de pessoas. É uma grande mulher, sem dúvida, do tipo que todo homem gostaria de ter ao seu lado. Ah... já ia me esquecendo de dize ... Kris tem um câncer incurável.

Para muita gente, o início do parágrafo anterior não combina com aquela doença ao final. Parece que há algo errado na estória, que juventude, beleza, inteligência e sucesso não combinam com doença ou fracassos de qualquer tipo. Soa como algo injusto, fora de tempo, inoportuno.

Kris Carr também achou que o câncer incurável era algo fora do contexto de sua vida. Assimilar uma situação assim leva algum tempo, exige uma digestão dos fatos. Kris foi diagnosticada com a doença em 2003, quando ficou sabendo que tinha um tipo incurável de câncer no fígado (ver notas de rodapé).

O susto é regra nesses momentos e a reação negativa inicial também... afinal, que estória é essa de tirarem minha vida tão cedo? Talvez Kris não tenha encontrado resposta para essa pergunta, mas certamente descobriu que possui um talento especial, tão especial que até o nome é estranho: resiliência.

Inicialmente formulado como um conceito da Física, o termo resiliência é pouco conhecido fora do mundo acadêmico. Na verdade, é um conceito ainda novo para a maioria das ciências. Fisicamente definindo-o, é a propriedade que alguns materiais possuem de voltarem ao estado normal após submetidos à máxima pressão ou deformação.

Tomado como empréstimo por áreas como Psicologia e Administração, o termo tem sido utilizado para definir um tipo positivo de comportamento humano, além de explicar alguns de superação em diferentes organizações. Em geral, "resiliência" significa a capacidade que pessoas e organizações possuem para lidar com problemas de forma pró-ativa, superando dificuldades aparentemente sem solução, sem se deixarem abater, sem culparem ninguém por isso e - principalmente - acreditando que sempre é possível superar o obstáculo que encaram.

Para alguns estudiosos, resiliência é algo inato ao ser humano, mas que nem todos desenvolvem... ou não têm a chance de desenvolver. É uma virtude, sem dúvida, e pode ser praticada cotidianamente, pacientemente, forjando a personalidade humana para resistir às mais diferentes adversidades.

A primeira vez que me deparei com palavra resiliência foi em 2000, num curso sobre gestão de organizações não-governamentais. ONGs são especialmente reconhecidas por lutar não só contra problemas que afetam o mundo, como também com as próprias dificuldades financeiras e administrativas para manter suas lutas ativas. São consideradas organizações resilientes por suas lutas contra a fome, a desigualdade social, pelos direitos humanos, pela proteção à natureza, dentre outros. Fazem isso com escassos recursos, com a disposição inabalável de seus líderes e voluntários, com a solidez dos ideais que as sustentam.

Comecei a trabalhar em ONGs logo após formado, tanto voluntária quanto profissionalmente. Conforme me envolvia com esse mundo, passei a melhor entender o significado prático do conceito apresentado naquela aula. Sabia o que representava aquilo no dia-a-dia de uma organização, mas não imaginei que também teria que aplicar a resiliência em minha própria vida.

Hoje compreendo exatamente o que essa significa andar por essa estrada. Posso dizer que é uma estrada estranha, às vezes difícil de percorrer. Mas quando se anda por ela, aprende-se a seguir em frente mesmo quando a força quase acaba. Aprende-se, especialmente, a exercitar a coragem a cada metro percorrido.

Assim como quase todo ser humano, viajei bastante por essa estrada até agora. É assim que desenvolvemos perseverança e auto-confiança. Meu olhar mudou, minha percepção de mundo não é mais a mesma e tudo isso só me trouxe vantagens. Procuro mostrar isso para outras pessoas, tento alertar aquelas que ainda não encontraram sua própria resiliência. E sou feliz porque me foram dadas condições para perceber isso, pois é com essa resiliência que pretendo mudar um pouco de mim e do mundo.

Se pudesse lhe dar um conselho, diria para exercitar sua resiliência o mais rápido possível. Não espere que uma situação mais desafiadora a desperte, como ocorre com frequência. Muitas pessoas começam a descobrir que conseguem superar dificuldades quando passam por elas, não antes. Porém, antecipar-se nesse jogo é importante. A resiliência pode ser exercitada com mais confiança, mas auto-estima, com a prática de ações que ajudem o próximo. A resiliência possibilitará que você ajude a si mesmo, que ajude ao próximo, que ajude o mundo. Se fizer isso, vai beneficiar muita gente, a começar por você.
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Notas
1. Contrariando todas as previsões, Kris Carr está viva cinco anos após o diagnóstico de câncer. É um caso que vem desafiando a medicina tradicional.

2. Site de Kris Carr: http://www.crazysexycancer.com/

terça-feira, 4 de novembro de 2008

OBAMA!!!!!!!!!!


OBAMA VENCEU!!!!!!!!!!!!!!


Certa vez escrevi uma postagem contra o agora ex-presidente Bush. Foi uma das primeiras deste blog. Lembro-me que me causava enjôo ver tanta gente hipócrita à frente da maior potência mundial. Agora Barack Obama acaba de ser eleito presidente dos Estados Unidos.

Estou cá nesse momento, na cidade de São Francisco, Califórnia. Tá a maior festa na rua, vejo pessoas felizes, um monte de gente chorando, se abraçando, pondo pra fora oito anos de mentiras, manipulações, guerras e opressão. Vejo pessoas celebrando a esperança de ter um líder que agora fala sobre paz, cooperação, entendimento, compreensão.

Creio que o mundo todo aguardava por isso. Sei que Obama não é a solução, é um ser humano que falha como qualquer outro. Mas é um líder que inspira confiança e que promete trazer novos ares para um país que merecia tanto. Vou pra festa.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Palavras de Marina

O texto abaixo não é meu, mas essas sinceras e doces palavras fizeram a diferença em meu dia. O texto é de Marina, uma pessoa querida que não encontro há muito tempo, mas que posso sentir em cada frase que foi escrita. Foi como se eu recebesse as palavras de suas próprias mãos...

Palavras de Marina

Pareço idiota... aos olhos superficiais e inquietos... mas só pareço. Acredito na paciência e na serenidade... acredito no amor... me emociono com as coisas belas da vida, da natureza... não perco a oportunidade de dar um sorriso sincero.... ou de deixar cair as lágrimas que afogam meu coração... Não acredito na felicidade que a maior parte das pessoas buscam... uma boa balada, muita grana, alguém para passar a noite.... Acredito que nós somos perfeitamente capazes de construir e sustentar a felicidade nas nossas vidas, com um pouco de maturidade para fazer as escolhas certas, bom humor para passar as horas difíceis... Hoje o que mais me faz feliz é o sorriso das minhas sobrinhas, o carinho sincero dos meus alunos, a companhia de amigos-irmãos tão fiéis que tem me ensinado tanto a amar mais e mais, a certeza de que eu estou amadurecendo meu espírito na busca de uma felicidade verdadeira, e não ilusória. Ainda busco um amor que consiga manter-se assim, acredito e confio a minha vida a Deus, que conhece meu coração mais do que eu mesma e sabe o que eu preciso, mereço e posso. Sei que tem me libertado de relações doentes que o meu coração quis teimar e persistir, por carinho e compreensão, paciência e vontade... nem sempre as pessoas entendem tudo isso... por isso iniciei dizendo que aos olhos dos outros eu posso, muitas vezes parecer sim uma tonta, às vezes até eu mesma me cobro por ser assim... calma... eu só sei que eu não quero sentir raiva... não quero sentir raiva de ex, nem de chefe, nem de ninguem... embora as vezes seja difícil.

Não sei o que é certo ou errado, pois muitas vezes eu mesma me pego errada.... na verdade a linha entre minhas qualidades e tantos defeitos é por vezes tão tênue, tão discreta que frequentemente sinto dificuldade em percebê-la... Semana passada um homem (que tinha acabado de conhecer) olhou dentro dos meus olhos e me disse... -Poucos amam como você. E me emocionei porque nós nem haviamos conversado... mas ele enxergou a minha alma... E eu pergunto... O que é certo? Amar verdadeiramente ou não? O que todos nós buscamos tanto e sabotamos tanto simultaneamente? É como dar braçadas e braçadas e não conseguir sair do lugar, das duas formas, da primeira não somos compreendidos, da segunda nós mesmos não nos compreendemos. Só sei que desejo a todos que possam sentir um pouco dessa forma bonita de amar e valorizar as coisas, os momentos e as pessoas que cruzam nossos caminhos.

Sigo então alegremente os meus dias, percebo a cada dia que não tenho motivo algum de que reclamar... pois como diz um amigo meu..."O riso é o combustível da alma, nos faz palpitantes e acima de tudo nos traz a calma". Eis que a minha alegria tem-me mantido calma diante de cada desafio que me é apresentado nessa vida. E se tiver algum valor.... pegue para você que se deu o trabalho de ler esse imenso desabafo o meu mais sincero desejo de que você possa se conhecer e ser verdadeiramente feliz! Muito, muito obrigada aos que puderam compreender minhas palavras... sinto muito aos que não puderam. Deus nos abençoe! Amém!

sábado, 7 de junho de 2008

Espiritualidade sem religião

"Não preciso de religião para exercer minha espiritualidade". Frase dita por um amigo, numa dessas conversas despretensiosas no café da faculdade. Parece simples quando se diz, mas há algo nessa frase que muita gente parece não ter compreendido: não é necessário ser adepto de certa religião para se ter fé ou se relacionar com Deus, com Jesus, Buda, Alá, Maomé, Ogun ou qualquer outro ser considerado divino. Tão pouco é necessário freqüentar igrejas, catedrais, templos, centros e terreiros para exercitarmos nossa espiritualidade.

Independente de qualquer religião, pode-se praticar a fé em casa, no trabalho, na rua, na balada, no cinema, com a pessoa que se ama, com as pessoas que não amamos, com os animais, com a natureza, enfim, em qualquer tempo e lugar. Também não é necessário crer em apenas uma só tradição para por em prática toda essa fé. Afinal, nenhum dos grandes nomes das religiões é propriedade desta ou daquela vertente religiosa. Jesus Cristo, por exemplo, não fundou uma religião ou filosofia, apenas encarou a estrutura social de sua época de forma crítica.

Já o Budismo nasceu a partir dos ensinamentos de Sidarta Gautama, mas não há registros de que seus princípios devessem ser seguidos à risca ou de forma dogmática. Da mesma forma, não deveria haver dogmatismos para Lao Tse, responsável pelas linhas que compõem o Tao Te Ching, a "bíblia" do Taoísmo. O mesmo serve para Confúcio, um filósofo e pensador chinês que já abordava altruísmo e compaixão em 500 a.C.

Não pretendo, em poucas linhas, negar a importância das religiões. Logicamente, há ótimos ensinamentos e práticas em todas elas, além de muitos movimentos e grupos religiosos que lutam pela dignidade da vida em todos os sentidos. Da mesma forma, não há como ignorar o lado obscuro de cada religião, onde todas desviam de seus propósitos e percorrem becos completamente sem saída, como a enganação, a exploração financeira e a doutrinação cega.

A vida sem religião parece impossível para a humanidade. O que faríamos com os líderes espirituais se compreendêssemos que cada um de nós possui uma liderança espiritual inata? O que faríamos com todos os santos e santas se vislumbrássemos que já nos foi dado todo o poder divino para enfrentarmos nossos problemas? E se concebêssemos Deus de forma diferente da habitual? Que tal se ele fosse mulher, talvez seja negro, talvez oriental, quem sabe uma índia, um hippie, baixinho, alto, gordo, magro. Pode ser tudo isso ao mesmo tempo, pode não ser nada disso.

Normalmente, as pessoas desconversam quando toco nesse assunto. Tudo bem, sei que não é fácil discutir crenças tão enraizadas. Mas continuo torcendo para que cada pessoa passe a buscar sua fé não somente nas igrejas, nos templos, nas imagens ou nos crucifixos. A partir desse momento, a religião não será mais necessária. Para ser sincero, creio que muita coisa melhoraria com isso...