quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Mangueiras e Mangas

Semanas atrás me envolvi num debate interessante sobre Educação. Foi numa das listas virtuais da qual participo, onde há internautas bem ativos e sempre dispostos a encarar uma boa discussão. Todos ali são educadores de longa data, cada um com suas conquistas e cicatrizes acumuladas durante anos de batalha.

Lá pelas tantas, as críticas passaram a orientar o rumo das conversas. E mesmo com a qualidade dos debatedores, as críticas adquiriram tons pessimistas, deixando expostas apenas as falhas e negatividades do tema em questão, ao invés de salientar pontos mais positivos. Eu sei, quando o assunto é Educação, às vezes é difícil incluir o otimismo na conversa. Mas o pessimismo pouco ou nada ajuda, a não ser a alastrar o desânimo.

Acompanhei os debates durante alguns dias, até que alguém comparou um projeto educacional à uma mangueira, tentando metaforizar as qualidades da Educação através dos dons que essa árvore carrega. Dons como sabor, força e capacidade de nutrir pessoas. Imediatamente, outro alguém surgiu para dizer que só visualizava as mangas que apodreciam com rapidez.

Lógico que cabiam críticas na discussão, mas as palavras eram apenas de descrédito, sem qualquer proposta de mudança.. Foi aí que decidi intervir para dar algum aspecto mais otimista ao debate.

Meu contraponto partiu de minha experiência pessoal. Tive a oportunidade de trabalhar cinco anos junto à uma organização que desenvolvia projetos baseados em potenciais. Potenciais positivos, obviamente. Olhávamos para situações aparentemente complicadas buscando o que havia de melhor naqueles ambientes: pessoas com capacidade de liderar, idéias inovadoras, capacidade de iniciativas, cooperação, senso de comunidade, dentre outros.com inúmeros dons.

Enxergávamos soluções onde a maioria somente apontava problemas. E sempre encontrávamos formas de transformar o cenário em questão, fosse com o auxílio dos potenciais existentes no setor público, privado ou terceiro setor, independente de partido, religião ou qualquer outro rótulo. Não havia espaço para pessimismo, derrotismo, lamentação e arrependimentos. Aceitávamos críticas se viessem acompanhadas por propostas de solução. E tentávamos... uma, duas, três ou quantas vezes fossem necessárias. Sempre era possível fazer algo melhor e sempre chegávamos em soluções. Plantamos várias mangueiras.

Após usar a lente dos potenciais por mais de cinco anos, tornou-se difícil lidar com a miopia de muitos pessimistas. Ainda vejo pessoas e organizações trilhando o caminho da lamentação, apenas apontando erros, necessidades e problemas. Lamentam, reclamam e criticam, raramente contribuindo para a melhoria do cenário.

Se a Educação não chegou onde gostaríamos, é porque devemos fazer mais, propor mais, mobilizar mais, brigar mais, tentar mais. Não é batalha para apenas uma geração, por isso temos que deixar um legado positivo para aqueles que estão por vir. Nossas atitudes serão a base de inspiração para futuros educadores, seja para o bem ou para o mal. Diante dessa responsabilidade, não podemos esquecer que somos o cerne da mangueira, jamais a manga podre onde muitos escorregam.
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Nota: a organização junto à qual atuei foi o IDIS - Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social. Participei, durante 5 anos, do Programa Doar, cujo princípio era desenvolver comunidades e municípios através da utilização de seus potenciais humanos, físicos e financeiros. www.idis.org.br

4 comentários:

  1. Tanta coisa a dizer.. nem sei onde comentar....

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  2. Adriano... oi! (Obrigada pelos lindos comentarios no meu blog!)
    O que voce fala no seu "post" de Mangueiras e Mangas acho que é um problema global como a crise economica: passamos mais tempo encontrando erros e em conversas pessimistas sem propor solucoes e sem querer encontrar o lado positivo das coisas (todas, negativas também).
    No dia a dia nos encontramos com situacoes dificies. Muitas vezes no trabalho acontece que alguem nao fez seu trabalho no tempo acordado. Temos uma reuniao onde gastamos mais de uma hora buscando os culpados e nao procuramos solucoes para resolver o problema.
    Acho muito interessante que voce teve a oportunidade de trabalhar numa organizacao que "gastava" seus energias em encontrar os pontos positivos nas pessoas e situacoes, e melhora-las. Sao accoes assim que ajudam as pessoas a acreditar em si mesmos que é o mais importante para ser feliz e ter sucesso na vida.
    (Desculpe meu portunhol por favor ;) )

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  3. Ok Dri...
    Comentário no meu blog...
    Beijos!!!

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  4. Eu aqui em "Nevelândia" lido com quilos de pessimismo todos os dias. Por parte dos brasileiros em relação às suas próprias possibilidades aqui, mas também por parte dos noruegueses em relação às potencialidades de TODO estrangeiro.

    Quando trabalhava com os meninos de rua em Belo Horizonte, ouvia diariamente milhares de comentários amargos vindos de colegas, de outros trabalhadores da rede de proteção à infância, de policiais e dos próprios meninos.

    Sempre me perguntei porque as pessoas são tão negativas quando se trata de perspectivas futuras. Acho que, por um lado, existe um MEDO de ser pego de surpresa pelo fracasso. Então a gente já começa a aventar todas as possibilidades de malogro que nosso coração sofrido e escaldado conseguir imaginar. Por outro lado, há a PREGUIÇA. Afinal, admitir que as coisas podem dar certo implicará em ter que fazer a nossa parte, o que pode exigir mais empenho e determinação do que estamos dispostos a dedicar.

    Enfim... para mim o pessimismo é uma espécie de morte. Quem não acredita que as coisas podem dar certo não empreende nada. E quem não empreende nada já morreu!

    Boas empreitadas para você aí!

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