sábado, 7 de junho de 2008

Espiritualidade sem religião

"Não preciso de religião para exercer minha espiritualidade". Frase dita por um amigo, numa dessas conversas despretensiosas no café da faculdade. Parece simples quando se diz, mas há algo nessa frase que muita gente parece não ter compreendido: não é necessário ser adepto de certa religião para se ter fé ou se relacionar com Deus, com Jesus, Buda, Alá, Maomé, Ogun ou qualquer outro ser considerado divino. Tão pouco é necessário freqüentar igrejas, catedrais, templos, centros e terreiros para exercitarmos nossa espiritualidade.

Independente de qualquer religião, pode-se praticar a fé em casa, no trabalho, na rua, na balada, no cinema, com a pessoa que se ama, com as pessoas que não amamos, com os animais, com a natureza, enfim, em qualquer tempo e lugar. Também não é necessário crer em apenas uma só tradição para por em prática toda essa fé. Afinal, nenhum dos grandes nomes das religiões é propriedade desta ou daquela vertente religiosa. Jesus Cristo, por exemplo, não fundou uma religião ou filosofia, apenas encarou a estrutura social de sua época de forma crítica.

Já o Budismo nasceu a partir dos ensinamentos de Sidarta Gautama, mas não há registros de que seus princípios devessem ser seguidos à risca ou de forma dogmática. Da mesma forma, não deveria haver dogmatismos para Lao Tse, responsável pelas linhas que compõem o Tao Te Ching, a "bíblia" do Taoísmo. O mesmo serve para Confúcio, um filósofo e pensador chinês que já abordava altruísmo e compaixão em 500 a.C.

Não pretendo, em poucas linhas, negar a importância das religiões. Logicamente, há ótimos ensinamentos e práticas em todas elas, além de muitos movimentos e grupos religiosos que lutam pela dignidade da vida em todos os sentidos. Da mesma forma, não há como ignorar o lado obscuro de cada religião, onde todas desviam de seus propósitos e percorrem becos completamente sem saída, como a enganação, a exploração financeira e a doutrinação cega.

A vida sem religião parece impossível para a humanidade. O que faríamos com os líderes espirituais se compreendêssemos que cada um de nós possui uma liderança espiritual inata? O que faríamos com todos os santos e santas se vislumbrássemos que já nos foi dado todo o poder divino para enfrentarmos nossos problemas? E se concebêssemos Deus de forma diferente da habitual? Que tal se ele fosse mulher, talvez seja negro, talvez oriental, quem sabe uma índia, um hippie, baixinho, alto, gordo, magro. Pode ser tudo isso ao mesmo tempo, pode não ser nada disso.

Normalmente, as pessoas desconversam quando toco nesse assunto. Tudo bem, sei que não é fácil discutir crenças tão enraizadas. Mas continuo torcendo para que cada pessoa passe a buscar sua fé não somente nas igrejas, nos templos, nas imagens ou nos crucifixos. A partir desse momento, a religião não será mais necessária. Para ser sincero, creio que muita coisa melhoraria com isso...