Os sociólogos, educadores e pessoas conscientes desse maltratado Brasil costumam dizer que não há elite em nosso país. Pelo menos não no sentido mais nobre dessa palavra. Com essa assertiva, injusta em raros casos, procuram demonstrar que uma elite, para ser classificada como tal, não admitiria um país com tamanho grau de miséria e desigualdade social. Muito menos conviveria, de forma tão duradoura, com tamanhos despropósitos. Em recente estudo do Banco Mundial (Bird), o Brasil não só está entre os quatro países mais desiguais do mundo, como apresenta mecanismos para perpetuar esse quadro, conforme matéria publicada na Folha de São Paulo, em 21 de setembro de 2005.
Como se isso não bastasse, na mesma reportagem, o Bird destaca que a "armadilha da desigualdade" no Brasil consolida-se quando as elites econômica e política perpetuam-se no poder, criando mecanismos financeiros e legais para manter posições de comando e obter vantagens. Um exemplo clássico, no caso brasileiro, são os poderes legislativo e judiciário, que elevam com freqüência os próprios salários e se recusam a cortar benefícios que não vigoram em nenhum outro setor da sociedade. Outro exemplo é a falta de financiamentos em condições iguais para ricos e pobres. Um dos pilares do desenvolvimento justo de um país é a concessão de poderes econômicos e sociais para sua população menos favorecida economicamente. É o que chamam de "eqüidade social", ou seja, chances iguais a todos, independentemente de cor, raça ou nível social. Como se tudo isso não bastasse, o Brasil possui uma das cargas tributárias mais altas do mundo. Hoje, ela supera 36% do PIB (Produto Interno Bruto), contra 12% no México, por exemplo. Isso significa que pagamos caro, muito caro, para um Estado que insiste em jogar pelo ralo os recursos que seriam para nosso bem estar.
Elite que se preza não hesitaria em chacoalhar governos, movimentos sociais e a si mesma pela melhora desse quadro social. Elite, com E maiúsculo, preza tanto seu bem estar quanto o bem estar alheio. Sem um, o outro não existe, nem pode. A não ser atrás das cercas elétricas, de condomínios fechados, de carros blindados e seguranças particulares. Mas isso está mais para estado de mal-estar social, pois representam a auto-exclusão por parte dos mais privilegiados. Parece que, nem de longe, a elite brasileira merece ser chamada como tal. Há exceções, como as importantes lideranças que estão à frente de movimentos como a responsabilidade social corporativa, além de inúmeras pessoas que atuam no terceiro setor brasileiro. Mas esses ainda nadam contra a corrente, pois a atual maré é regulada pelos inconseqüentes sociais desse país. Pessoas que surfam nas ondas da desigualdade, curtindo como podem. Só não percebem que essa onda está nos levando para o esgoto. Esporte radical. Um dos prazeres de nossa elite.
Foto retirada de http://www.aula7.org/EPPaz.htm em 12/01/2005.
Triste pra mim é saber que algumas das iniciativas ditas inclusivas ou solidárias são baseadas muito mais no medo dos possíveis efeitos da exclusão social (violência, roubo, expropriação) e no sentimento de culpa, do que em uma ética do bem-estar coletivo, amor ao próximo e etc... essas coisas que parecem idiotices num mundo de individualismo declarado.
ResponderExcluirSem dúvida, Carmen, se todas as ações sociais fossem baseadas somente na ética e no amor ao próximo (e não na culpa ou medo), o problema já estaria melhor resolvido, certamente.
ResponderExcluirps: postei o texto com algumas incorreções no português. Agora já está melhor.
Incorreções no português??? Nem notei... espero que esse olho clínico não vasculhe as incorreções das minhas linhas, escritas à queima roupa, com coração e muita empáfia, sem vergonha, sem protocolos, sem medo...
ResponderExcluirMas entendo o seu cuidado porque acho que professor não pode se dar a estes luxos...