Em tempos de freqüentes discussões sobre desenvolvimento sustentável, não se espante se alguém lhe disser que a população mundial está a uma "pegada" da extinção. Pode ter certeza de que não é uma metáfora. Também não estranhe se adjetivarem o termo e lhe disserem que sua "pegada ecológica" é um risco ao nosso planeta. Se você ainda não ouviu esse tipo de conversa, ouvirá em breve.
Dentre os estudiosos e partidários do desenvolvimento sustentável, "pegada ecológica" (footprint, em inglês) significa o rastro que cada ser humano deixa no planeta para viver. Dito de outra forma, é a quantidade de recursos naturais que cada um de nós consome para suprir as necessidades diárias de alimentação, moradia e locomoção, só para citar os itens mais básicos.
Não é novidade que vivemos um período de insustentabilidade no planeta Terra. A agressiva produção industrial do século XX, acompanhada de nosso consumo pouco consciente, produziu níveis inimagináveis de degradação ambiental. Poluição do ar, esgotamento da terra, escassez de alimentos e falta de água potável são os exemplos mais evidentes. Olhamos para esses cenários com extrema indignação e ainda apontamos o dedo da culpa para os países mais industrializados. Pois bem, se você é um desses que está com o dedo apontado, é melhor abaixá-lo. A responsabilidade também é sua, e não é pequena.
O conceito de "pegada ecológica" é a ferramenta que permite mensurar a participação de cada indivíduo no processo de degradação de nosso planeta. Permite-nos avaliar o impacto de nossas opções diárias de consumo no meio ambiente, estimando a quantidade de recursos naturais necessários para produzir os bens e serviços que nos sustentam, bem como os resíduos que geramos. De acordo com esse conceito, cada ser humano necessita de uma quantidade mínima de espaço natural produtivo para atravessar toda sua existência.
É como se, no dia de nosso nascimento, ganhássemos um lote terra (exatamente 1,7 hectare/habitante) de onde extrairíamos toda nossa alimentação, toda nossa água e todos os meios necessários para uma condição de vida digna. Seria o espaço de nossa moradia, de produção de nossos bens e, logicamente, de depósito de nosso lixo. Caso um de nós decidisse aumentar o tamanho de seu lote, o vizinho seria prejudicado e não teria recursos suficientes para sobreviver dignamente. Caso muitos decidissem multiplicar as dimensões de seu espaço, outros muitos ficariam à margem do sistema, sobrevivendo à míngua. Caso muitos gerassem resíduos em excesso, muitos outros lotes receberiam uma sobrecarga inviável desses resíduos, a qual afetaria o clima de todo o sistema.
Na prática, o cálculo da pegada ecológica sinaliza que nosso padrão de consumo individual é insustentável em larga escala. Se você fez o cálculo a partir do link acima, já deve ter percebido que utilizamos recursos que requerem muito mais do que 1,7 hectare para suprir nossas necessidades. Os mais abonados, por exemplo, expandiram suas cercas para 7 hectares, aproximadamente, o que significa que a produção de nossos alimentos, moradias, carros, roupas, calçados e tecnologia, bem como os resíduos gerados a partir daí, requerem muito bem mais do que o espaço que ganhamos ao nascer. E se ocupamos esses hectares a mais, acabamos tirando o espaço de sobrevivência dos menos afortunados.
Pior ainda, se quiséssemos que todos os atuais seres humanos excluídos tivessem um padrão de vida semelhante ao nosso, não haveria, em toda a Terra, recursos naturais suficientes para tamanha demanda. Basta olharmos para o lado para constatarmos a escassez de água potável enfrentada por parte da população mundial, assim como a impossibilidade de acesso à habitação e alimentos de boa qualidade que essa população enfrenta. Para resolver o problema, seria necessária uma reengenharia global em prol do bem estar de todos. Em nosso atual estágio de desenvolvimento, a única saída seria reduzirmos o tamanho de nossas propriedades e a utilização dos bens que nos confortam cotidianamente. Tarefa impossível num curto espaço de tempo, mas necessária para a continuidade da vida na Terra.
É difícil encarar os fatos, mas só podemos manter nosso atual padrão de vida se boa parte da população mundial continuar à margem desse mesmo padrão de consumo. Não há solo, nem água, nem plantações que agüentem o consumo de 6,5 bilhões de pessoas. Se quisermos assegurar condições dignas para a existência das futuras gerações, teremos de viver de acordo com os limites da Terra, não de acordo com nossas vontades de consumo. Mas antes que as futuras gerações cheguem, milhões de seres humanos continuarão caminhando à beira do abismo da exclusão. Para esses, cada pegada será mais um passo em direção ao precipício.
Esse seu post só vem provar "ecologicamente" a idéia de que a riqueza produz pobreza, de que não há como alguém ser rico sem expropriar outro. Depois dessa, continuo pensando que a riqueza é a pior forma de egoísmo.
ResponderExcluirFalou bem, Carmen, a mão invisível que gera a riqueza é a mesma que expropria as oportunidades de milhões de pessoas. São esses milhões de terráqueos que sonham atingir um padrão de consumo semelhante ao do cidadão europeu ou americano. Sonho ambientalmente inviável. De duas, uma: ou os cidadãos de países desenvolvidos diminuem seu ritmo de consumo, ou os mais excluídos abandonam seu sonho de consumir da mesma forma. Imagine o que vem por aí...
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