É preciso ser candidato a santo para responder "sim" a essas questões. E só é difícil responder "sim" porque não aprendemos a amar sem sentir ciúmes, sem cobrar o próximo. Não aprendemos que pode ser uma grande prova de amor aceitar que o parceiro(a) queira viajar sozinho. Não aprendemos que relações duram em liberdade, jamais com nós atados. Não aprendemos que é possível dizer: 'Boa viagem, amor! Envie umas fotos da praia!'.
O mais comum é que respondamos "não" a uma ou a todas essas questões. Comum porque esses padrões de cobrança são considerados comuns em nossa sociedade. Cobrar o próximo é comum, ser ciumento idem, restringir a vida alheia também. É tão comum, que esses padrões de comportamento geram até violência doméstica, algo inclusive tolerado e até culturalmente justificado.
Amar uma pessoa significa tudo, menos ser proprietário dessa pessoa. O ciúme é uma forma de se apropriar do próximo através das próprias inseguranças, não uma forma de demonstrar afeto Esse apego, em boa parte dos casos, é apenas medo de perder o parceiro ou parceira em algum momento. Sei disso porque já fui ciumento, já cometi o pecado das cobranças irracionais por medo de perder alguém. Felizmente, consegui me livrar disso... não sei se muito ou pouco... mas me livrei em algum grau. É por isso que escrevo este texto.
Fiz 40 anos em fevereiro passado, tempo suficiente para compreender que "amor" significa muita coisa... menos ciúme, medo, apego ou qualquer sentimento menos nobre que exista por aí. Cheguei a essa compreensão após ter feito tudo ao contrário, ou seja, após ter nutrido os piores sentimentos em nome daquilo que eu também considerava "amor". Lógico que não somos carrascos emocionais o tempo todo, muito menos agimos assim de propósito. Somos apenas mal programados para amar... talvez por inexperiência pessoal, imaturidade... mas também por aceitarmos os padrões de amor que moldam nossa cultura.
Faz algum tempo que venho exercitando uma outra compreensão do que pode ser uma relação amorosa. Isso não garante que não cometerei mais pecados como ciúmes ou cobranças, mas me torna um indivíduo mais atento aos momentos em que isso ocorrer. Avancei alguns passos nesse universo de auto-compreensão, mas é necessário esforço contínuo para chegar a esse ponto, algo parecido a fazer uma atividade física: ou se pratica com frequência ou o condicionamento não melhora. Após errar muito, começo a acreditar que o sentido do amar significa gostar mais de mim mesmo do que de minha namorada. Gostar mais de si mesmo não significa ser egoísta na relação, mas nutrir a própria confiança, a auto-estima e a compreensão dos limites disso tudo. Parece simples quando se fala, mas não é simples quando se faz. É por isso que registro estas linhas, justamente para alertar sobre a necessidade de nos esforçarmos para não sermos tiranos emocionais. E se formos tiranos, faremos tudo nessa vida, menos amar. E acredite... isso é absolutamente trágico.
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Imagem: http://migre.me/Bcrf
Eu também vou responder com sinceridade: sim, já amei sem ciúmes, sem cobranças e desejando boa sorte em próximos namoros. Louca ou não, o respeito pela individualidade da outra pessoa é importante para mim e sempre adotei esse pensamento nas minhas relações. Eu acredito que não podemos esquecer que alem de participar na vida da outra pessoa, ele ou ela não é da nossa propriedade e merece nosso respeito e confiança.
ResponderExcluirTambém já me disseram que não sou normal porque “não tenho ciúmes”. Eu acredito que ciúmes exageradas mostram que primeiro, a pessoa não tem confiança em si mesmo. O mesmo acontece com a possessividade, que pessoalmente acho pior do que as ciúmes. Já tive um namorado assim e me senti afogada. Ele não queria sair se não fosse comigo e se eu queria sair sozinha ou com minhas amigas, começava o ressentimento: “Mas eu nunca saio sem você, eu prefiro ficar em casa com você, etc.” Plop!
Compartir uma vida não quer dizer absorver uma vida. Como você Adri disse: ames o próximo como amas a ti mesmo... e se você quer ser amado, bom, comece por amar, de verdade e com o coração aberto.
Gipy, fico feliz em saber que você é uma exceção nesse mundo. O primeiro parágrafo de seu comentário é fantástico! Conheço raras pessoas que conseguiram agir como você.
ResponderExcluirTenho a mesma opinião sobre ciúme, sinto-me afogado quando sou tratado dessa forma. Infelizmente, afoguei minha primeira namorada com meu ciúme doentio, mas eu era muito novo, acho que dá para justificar um pouco :) Creio, ainda, que os homens são mais ciumentos do que as mulheres, por isso criamos tantos problemas nesse mundo.
Hoje em dia, entendo as relações como estórias de companheirismo. Nada de um absorver o outro, isso não dá certo mesmo! E tem mais... meu coração já não suporta ciúmes ou sentimentos de posse, portanto, tenho que colocá-lo sempre em primeiro lugar ;)
Bjs e obrigado pelo comentário!
Eu acredito que amor sem ciúmes seja possível. E talvez deva ser tratado como meta permanente. Eu tenho um exemplo aqui dentro de casa, que é meu marido. O que percebo é que ele não tem ciúmes porque ele SE AMA MUITO. E por isto ele sabe fazer os outros se sentirem amados também. Não foi à toa que me apaixonei por ele.
ResponderExcluirBeleza de postagem, Adriano!
Carmen, gostei da ideia ter o amor sem ciúme como meta permanente. Oxalá todo mundo tivesse essa meta na vida, as relações amorosas seriam muito menos complicadas e neuróticas. Fico feliz que tenha encontrado um parceiro que pensa dessa forma, uma mulher inteligente como você não conseguiria viver com alguém possessivo. Aliás, concordo plenamente com o que disse: seu marido SE ama, antes de mais nada. E por Se amar, ele consegue TE amar dessa forma saudável que descreveu. Não foi mesmo à toa que se apaixonou por ele, nem foi à toa que trouxeram uma nova vida ao mundo. Almas e mentes assim precisam deixar novas gerações nesse mundo, é a esperança que resta de termos seres humanos mais sensíveis.
ResponderExcluirVamos esquecer um pouco o que é certo ou errado, a respeito desse sentimento tão simples e ao mesmo tempo encarado com tanta complexidade !
ResponderExcluirQuando a relação amorosa, não me conduz a mim mesma; quando eu, numa relação de amor, não conduzo a outra pessoa à sí própria, este amor, mesmo que pareça a ligação mais segura e extasiante que já tive, não é amor verdadeiro !
Somente quando não é uma obrigação amar, só então; o amor está eterna e alegremente garantido contra o desespero.
Tudo que lí sobre amor nesse blog é realmente relevante; porém essa discussão desenfreada sobre ciúmes, liberdade, diferenças, cobranças torna essa palavra " amor" tão pesada, ao contrário do que realmente deveria ser. O amor tem que ser leve, puro, intenso em todas as suas formas; enfim é tudo tão simples quando o sentimos sem medo e sem culpa. Não preciso me culpar por estar amando, preciso simplesmente amar e isso pra mim já basta !