
Tinha nove anos quando me confessei
pela primeira (e única) vez, experiência que ainda trago em minha
memória. Era 1979 e a confissão foi o resultado das aulas de catecismo
que fui levado a frequentar. Aquele precoce curso de teologia foi
concluído ao final daquele ano, após um exame final que incluía uma confissão obrigatória para a absolvição de meus pecados. Pecados de uma criança de 9 anos...
Minha experiência
no catecismo é um exemplo de aprendizado sem sentido para uma criança. Atualmente, vejo que aquele foi o momento errado para aprender um conteúdo
que exige o mínimo de reflexão e senso crítico. Do ponto de vista social, foi o
momento certo para iniciar um processo de alienação que leva o ser humano a incorporar crenças espirituais como verdades absolutas. É o momento em que os adultos nos alertam: aceite tudo o que lhe dissermos e não questione nada, pois será assim sua vida toda.
É difícil listar o
que considero mais equivocado no processo de conversão do ser humano a uma religião, seja ela qual for. No
meu entender, a oposição a qualquer questionamento é o ponto mais negativo desse processo. Desde a
infância, somos levados a aceitar doutrinas dogmáticas como reais e imutáveis. Para as religiões em geral, questionar quaisquer de seus princípios é um ato que merece ser punido, seja com o peso da culpa, seja visitando o inferno após a morte. Pensar é heresia.
É fácil convencer uma criança a crer em qualquer coisa, basta contar-lhe uma estória bem legal. E eu achei massa a estória do cristianismo, até porque soava como as fábulas que gostava de ler e ouvir: havia um mocinho com poderes, cercado por 12 super amigos, lutando contra um vilão traidor e um rei malvado. Apresentaram-me os personagens, mas omitiram questões importantes.
Não me disseram, por exemplo, que o vilão histórico do Cristianismo foi a própria Igreja Católica, que perseguiu, torturou e matou milhares de pessoas que discordaram de suas verdades durante séculos. Não me contaram que o "Não matarás" foi transgredido por poderosos que se diziam representantes de Deus. Também não me contaram sobre as riquezas exorbitantes do Vaticano e sobre seus Papas autoritários. Ok... jamais contariam isso à uma criança, não contam nem aos adultos.
É fácil convencer uma criança a crer em qualquer coisa, basta contar-lhe uma estória bem legal. E eu achei massa a estória do cristianismo, até porque soava como as fábulas que gostava de ler e ouvir: havia um mocinho com poderes, cercado por 12 super amigos, lutando contra um vilão traidor e um rei malvado. Apresentaram-me os personagens, mas omitiram questões importantes.
Não me disseram, por exemplo, que o vilão histórico do Cristianismo foi a própria Igreja Católica, que perseguiu, torturou e matou milhares de pessoas que discordaram de suas verdades durante séculos. Não me contaram que o "Não matarás" foi transgredido por poderosos que se diziam representantes de Deus. Também não me contaram sobre as riquezas exorbitantes do Vaticano e sobre seus Papas autoritários. Ok... jamais contariam isso à uma criança, não contam nem aos adultos.
A etapa final do catecismo previa uma absurda confissão de pecados por parte de todas aquelas crianças. Ainda me lembro da fila infantil aguardando a chamada ao confessionário da catedral. Momento de puro temor, pois não sabia bem o que era pecado, é difícil saber até hoje. Tinha apenas consciência de que eram coisas consideradas erradas sob a ótica adulta. Com isso em mente, listei transgressões como "eu brigo com meu irmão", "corro demais na escola" e "levo bronca todo dia". Chegada minha vez, dirigi-me ao confessionário carregando o peso do mundo em meus ombros. Ajoelhei-me e pronunciei os pecados que havia decorado minutos antes. A penitência foi dada sem vacilo:
- Vinte Ave Marias e dez Pai Nossos.
Se aquele padre tivesse qualquer bom senso, certamente diria: "É tudo brincadeira, meu jovem... você não é um pecador, que bobagem isso tudo!". Mas não... a noção de pecado deve ser construída desde cedo, como forma de controle de sociedades que já vivem controladas. Esse controle moral vale para crianças, adultos e idosos. Vale na hora de transformar o sexo em tabu, a masturbação em algo proibido, o casamento em uma prisão. Bobagem sem fim, dominação sem fim, hipocrisia sem fim.
Voltei ao meu lugar após ouvir a sentença, ajoelhei diante dessa tal cruz e comecei a cumprir minha pena espiritual. Mas imaginar que rezas curam comportamentos é subestimar todo o avanço científico da humanidade. A psicologia, a psiquiatria e a neurologia fazem infinitamente melhor... e sem te encher o saco com dogmas.
Na pressa, perdi a conta das orações, mas não me importei muito, apenas continuei balbuciando rezas para fazer o tempo passar. Quando achei que estava bom, levantei-me e fui embora a passos rápidos, ansioso por encontrar a próxima brincadeira pela frente. Saí dali para nunca mais retornar a um confessionário.
Na pressa, perdi a conta das orações, mas não me importei muito, apenas continuei balbuciando rezas para fazer o tempo passar. Quando achei que estava bom, levantei-me e fui embora a passos rápidos, ansioso por encontrar a próxima brincadeira pela frente. Saí dali para nunca mais retornar a um confessionário.
Minha vida
religiosa começou dogmática assim. Felizmente, consegui me livrar daquele falso moralismo que tentaram me incutir. Mas essa carta de alforria não veio de graça, foi fruto de muita leitura, muito questionamento e muitos debates com amigos.
Como resultado da liberdade, busquei outras religiões e filosofias na vida adulta. Frequentei o Budismo, o Espiritismo, fui a centros de Umbanda, conheci médiuns, fui atrás de curandeiros, fiz até curso de projeção astral, mas sem jamais aceitar dogmas de forma pronta. Passei a ser uma pessoa sem religião, vivendo naquela região entre o ateu e o agnóstico. Vou prosseguir assim, pois já paguei todos os meus pecados com as 20 Ave Marias e os 10 Pai Nossos de minha impecável infância.
Como resultado da liberdade, busquei outras religiões e filosofias na vida adulta. Frequentei o Budismo, o Espiritismo, fui a centros de Umbanda, conheci médiuns, fui atrás de curandeiros, fiz até curso de projeção astral, mas sem jamais aceitar dogmas de forma pronta. Passei a ser uma pessoa sem religião, vivendo naquela região entre o ateu e o agnóstico. Vou prosseguir assim, pois já paguei todos os meus pecados com as 20 Ave Marias e os 10 Pai Nossos de minha impecável infância.